“No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia-noite”(At 20:7)
INTRODUÇÃO
Deus instituiu um dia para o descanso; um dia para o homem cessar suas atividades de comprar e vender e voltar-se para Ele em adoração e serviço. Nesse dia, nenhum trabalho deve ser feito; é o dia do Senhor. A quebra do sábado era profanação da religião judaica. O domingo é o dia do descanso do povo de Deus(a Igreja). O sábado é o memorial da criação. O domingo é o memorial da ressurreição.
Hoje, os crentes já não se preparam mais para o dia do Senhor. Nossas festas de entretenimento e confraternização avançam na madrugada do sábado e entram no dia do Senhor e aí as pessoas preferem dormir a ir à Casa de Deus. Não buscamos mais o Senhor em primeiro lugar. A busca do lucro ou do lazer em vez da busca da piedade pode ser um grande laço espiritual. É por essa porta que começa a secularização da igreja.
I. DEUS ORDENA A GUARDA DO SÁBADO
1. Uma ordenança divina para os israelitas. O sábado representava uma aliança entre Deus e Israel. Era (como até hoje o é) um caráter distintivo do relacionamento com Deus, uma marca que mostrava ao mundo que Israel era a “propriedade peculiar de Deus dentre os povos” (Ex 19:5).
A nação de Israel recebeu a ordem de guardar o sábado quando os Dez Mandamentos foram dados(Ex 20:8-11). Pouco tempo depois, Deus assim enfatizou: “Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados...”(Ex 31:13a). Nesse dia, o povo não deveria realizar qualquer tipo de trabalho, nem mesmo relacionado à construção do tabernáculo. Quem desobedecesse era punido com a morte(Ex 31:15).
Santificar o sábado importava em separá-lo como um dia diferente dos demais, cessando o labor para descansar, servir a Deus e concentrar-se nas coisas respeitantes à eternidade, à vida espiritual e à gloria de Deus(Ex 20:9-11; Gn 2:2,3). A observância do dia do Senhor por Israel era um sinal de que ele pertencia a Deus(Ex 31:13); lembrava-lhe o seu livramento da escravidão do Egito (Dt 5:15).
2. Um sinal entre Deus e o seu povo (Ez 20:12,20). Guardar o sábado (o sétimo dia) era um sinal entre Deus e Israel. O texto Bíblico, em Êxodo 31:13, é claro sobre isso: “Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um SINAL entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica”. Ainda, em Êxodo 31:17a, diz: “Entre mim e os filhos de Israel será um SINAL para sempre...”. Leia, também, Ezequiel 20:10-12,20. Portanto, a aliança que incluía o dia do sábado foi exclusivamente feita com os israelitas e com ninguém mais.
Os sabatistas apontam o texto de Êxodo 31:17 como prova da obrigatoriedade da guarda do sábado, baseando-se na expressão “para sempre”, a qual interpretam como de duração permanente. Entretanto, há outros textos na Bíblia que falam de preceitos perpétuos ou para sempre, que não são considerados como de duração permanente pelos próprios sabatistas. É o caso da circuncisão, que é chamada de preceito perpétuo(Gn 17:7,13); a unção dos sacerdotes era preceito perpétuo(Ex 40:15); a celebração da páscoa era preceito perpétuo(Ex 12:14). Será que os sabatistas praticam estes preceitos perpétuos? Por que só vêem no sábado um preceito perpétuo?(ver Ex 16:28; 20:8; 23:32).
Não precisa ser um exímio exegeta para compreender que o sábado foi um sinal entre Deus e Israel, e que não se aplica à Igreja, a qual tem como compêndio doutrinário o Novo Testamento.
3. O propósito divino da guarda do sábado. “Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá. Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua” (Ex 31:15,16).
O sábado semanal (gr. sabbaton, que significa “repouso”, “cessação”) tinha dois propósitos:descansar do trabalho normal, para repouso pessoal, e adoração ao Senhor(Ex 20:8,10; Dt 5:14,15). Todos nós precisamos de descanso. Sem um tempo para fugir do alvoroço, a vida perde o significado. Assim como nos tempos de Moisés, não é fácil em nossos dias obter um tempo para folga, mas Deus nos lembra que sem o descanso esquecemos o propósito das nossas ocupações e perdemos o equilíbrio crucial para uma vida de fidelidade. Assegure-se de que seu dia de descanso propiciará momentos revigorantes e de comunhão com Deus.
A profanação do dia do Senhor é um sinal do secularismo. A inobservância do dia do Senhor (o domingo) é um forte sinal da decadência espiritual da igreja contemporânea. Na Europa e na América, muitas igrejas estão vazias. Em outros lugares, há muitas igrejas cheias de pessoas, mas vazias da Palavra de Deus. O secularismo está entrando dentro das próprias igrejas e anestesiando os próprios cristãos.
II. O DESCUMPRIMENTO DA LEI MOSAICA NO TEMPO DE NEEMIAS
1. O desrespeito pela guarda do sábado. Quando Neemias retornou da capital da Pérsia, encontrou uma negligencia generalizada e desrespeito em relação à guarda do sábado. Muitos continuavam a desempenhar o seu trabalho habitual aos sábados, e outros compravam e vendiam como em qualquer outro dia. Mercadores de Tiro tinham permissão para oferecer os seus artigos ate na cidade de Jerusalém. Neemias nos diz que discutiu “com os nobres de Judá e lhes disse: que mal é este que fazeis, profanando o dia de sábado? Porventura, não fizeram vossos pais assim, e nosso Deus não trouxe todo este mal sobre nós e sobre esta cidade? E vós ainda mais acrescentais o ardor de sua ira sobre Israel, profanando o sábado”(Ne 13:17,18). Como se percebe aqui, a quebra do dia do Senhor e a consequente profanação do culto foram uma das fortes causas da queda de Judá(cf Ezequiel 20:13).
A circunstância, pois, de os judeus, desde que haviam voltado do cativeiro, deixarem de guardar o sábado por causa dos comerciantes dos povos das terras que vinham ao seu encontro para o comércio naquele dia, era uma nítida atitude de perda de identidade por causa dos povos que os cercavam.
Também, nos dias hodiernos, não são poucos os que cristãos que se dizem ser que também estão a perder as suas características distintivas do seu relacionamento com Deus por causa dos “povos das terras” que, sorrateiramente, vêm perturbar o nosso relacionamento com Deus com as “coisas desta vida”.
Tenhamos cuidado, amados irmãos, para que não venhamos a perder aquilo que nos torna diferentes das pessoas descrentes, aquilo que nos identifica com o Senhor Jesus, por causa da “sedução das riquezas e dos cuidados do mundo”, pois isto, certamente, fará com que venhamos a morrer espiritualmente, como nos ensina o Senhor Jesus na parábola do semeador (Mt 13:22).
2. A ganância dos mercadores. O povo de Israel permitiu que seus interesses comerciais e a busca de coisas materiais destruíssem sua obediência ao mandamento de Deus, no tocante ao dia de descanso. O comércio no dia do Senhor corrompia completamente o propósito do descanso e da adoração.
Quando o lucro toma o lugar do culto, então estamos em grande perigo. Quando se passa a confiar mais na provisão do que no provedor, então estamos na contramão da vontade de Deus. O domingo é o dia do Senhor. Por isso, nesse dia devemos descansar de nossas atividades, trabalho e estudo, para nos dedicarmos à família, à adoração e ao serviço do Senhor Deus.
O povo de Deus da nova aliança deve sempre tomar cuidado contra a tentação de deixar que a busca de riquezas e sucesso suplante seu desejo de honrar e adorar a Deus, como Ele estabeleceu. Devemos buscar “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça”(Mt 6:33).
3. Neemias proíbe o comercio no sábado(Ne 13:19-21). Neemias ordenou que na sexta-feira as portas da cidade fossem fechadas ao pôr-do-sol, e assim deveriam permanecer até o final do sábado. Quando os mercadores tentaram continuar com seus negócios fora das portas da cidade, ele fez uma acusação formal contra eles - “Por que passais a noite defronte do muro? Se outra vez o fizerdes, hei de lançar mão sobre vós”(Ne 13:21). Neemias não apenas fala; ele age. Ele não apenas ensina; ele toma medidas práticas para a eliminação do mal.
Os cristãos observam o domingo como dia de repouso pessoal e adoração ao Senhor. É o dia em que Jesus ressurgiu dentre os mortos, sendo chamado no Novo Testamento de “o dia do Senhor”(Ap 1:10). Hoje, uma das maiores causas do secularismo galopante na Igreja é a quebra da observância do dia do Senhor; não nos preparamos para esse Dia; não nos deleitamos nesse dia. Muitos se entregam a um lazer profano; outros entregam-se ao trabalho e ao desejo do lucro; outros se esquecem de Deus. É lamentável que isso esteja acontecendo! Muitos líderes, até mesmo, que se dizem pastores, não respeitam o dia do Senhor; em vez de irem à Escola Bíblica Dominical vão à praia, ao balneário, ao sítio, etc. É um péssimo exemplo aos seus liderados!
III. A GUARDA DO SÁBADO EM O NOVO TESTAMENTO
1. A essência do dia de descanso. O principio de um dia sagrado de repouso foi instituído antes da lei judaica - “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou”(Gn 2:3). Isto indica que o propósito divino é que um dia, em sete, fosse uma fonte de benção para toda a humanidade e não apenas para a nação judaica.
O propósito espiritual de um dia de descanso em sete é beneficio ao cristão. No Novo Testamento esse dia era visto como uma cessação de labor e ao mesmo tempo um dia dedicado a Deus (ler Atos 20:7; 1Co 16:2); um dia para se conhecer melhor a Deus e adora-lo; uma oportunidade para dedicar-se em casa e em público às coisas de Deus(Nm 28:9; Lv 24:8).
O sábado tornou-se o fim de uma semana de trabalho; o dia do Senhor, ou domingo, inicia uma semana tranqüila com o conhecimento de que o trabalho da redenção já está completo. O sábado comemora a primeira criação; o domingo é ligado à nova criação. O sábado era um dia de responsabilidade; o dia do Senhor é um dia de privilégio.
Jesus nunca ab-rogou o principio de um dia de descanso para o homem. O que Ele reprovou foi o abuso dos líderes judaicos quanto à guarda do sábado (Mt 12:1-8; Lc 13:10-17; 14:1-6). Jesus indica que o dia de descanso semanal foi dado por Deus para o bem-estar espiritual e físico do homem (Mc 2:27).
2. Jesus e o dia de descanso (ler Mateus 12:1-8). Certa vez, num dia de sábado, Jesus e seus discípulos estavam passando pelas searas. Seus discípulos entraram a colher espigas e a comer. A lei permitia que se servissem do grão no campo do seu vizinho, contanto que não se usassem a foice(Dt 23:25). Mas os fariseus, catadores legalistas de lêndeas, os acusaram de terem quebrado o sábado. Embora suas acusações não sejam declaradas, provavelmente censuraram os discípulos por: (1) colher (pegar grão); (2) debulhar (esfrega-lo nas mãos); (3) cirandar (separar do grão da palha).
Jesus respondeu à sua queixa ridícula lembrando um incidente na vida de Davi. Certa vez, quando em exílio, ele e seus homens foram ao deserto e comeram os pães da proposição, doze pães do memorial, proibidos como alimento a qualquer um, com exceção dos sacerdotes. Nem Davi nem seus homens eram sacerdotes, mesmo assim Deus nunca achou culpa neles por fazerem isso. Porque que não? A razão é que a lei de Deus nunca teve a intenção de infligir opressão ao seu povo fiel. Não era culpa de Davi estar no exílio. Uma nação pecaminosa o rejeitara. Se ele tivesse recebido seu lugar de direito, ele e seus seguidores não teriam de comer o pão da proposição.
A analogia é clara. O Senhor Jesus é o Rei de Israel por direito, mas a nação não o reconhecera como Soberano. Se a ele tivesse sido dado o devido lugar, seus seguidores não ficariam limitados a comer desse modo em um sábado, ou em qualquer outro dia da semana. A historia estava se repetindo. O Senhor não reprovou seus discípulos, pois eles não fizeram nada de errado.
Jesus relembrou aos fariseus que os sacerdotes violam o sábado por matar e sacrificar animais e por realizar muitas outras ocupações servis(Nm 28:9,10), mas mesmo assim ficam sem culpa porque estão ocupados no serviço de Deus.
Os fariseus sabiam que os sacerdotes trabalhavam todo sábado no templo sem profana-lo. Por que então deveriam criticar os discípulos por agirem daquela forma na presença de “Alguém” que é “maior que o templo”?(Mt 12:6).
Os fariseus nunca entenderam o coração de Deus. Em Oséias 6:6, o Senhor disse: “Misericórdia quero e não holocaustos”. Deus coloca a compaixão antes do ritual. Ele preferira ver seu povo apanhando espigas no sábado para satisfazer sua fome a observar o dia tão rigidamente a ponto de infligir angustia física. Se os fariseus tivessem percebido isso, não teriam condenado os discípulos. Mas valorizavam a aparência externa, o formalismo, acima do bem-estar humano.
Depois o Salvador acrescentou: “Porque o Filho do Homem até do sábado é Senhor”. Foi ele quem, em primeiro lugar, instituiu a lei; portanto ele era o mais qualificado para interpretar seu verdadeiro significado.
Como um judeu fiel vivendo sob a lei, Jesus guardou o sábado (apesar das acusações dos fariseus dizendo o contrário). Como Senhor do sábado, ele libertou-o das falsas regras e regulamentos com as quais se cobrira.
A proibição contra o serviço no sábado nunca teve o objetivo de se aplicar ao serviço de Deus (Mt 12:5), as obras de necessidade (Mt 12:3-4) ou obras de misericórdia (Mt 12:11-12).
3. O cristão deve guardar o sábado? Para o cristão, o sábado judaico não é obrigatório. As exigências cerimoniais da lei (observe: o sábado era uma lei cerimonial, enquanto os outros nove mandamentos eram princípios morais) foram canceladas na morte de Cristo (Cl 2:14,16; Gl 4:1-11). Além disso, o sábado como dia fixo da semana de descanso foi parte do pacto entre Deus e Isaque, somente (Ex 31:13,17; Ez 20:12,20).
Dos Dez Mandamentos, nove são repetidos no Novo Testamento, não como leis, mas como instrumentos para os cristãos viverem sob a graça(ler Rm 6:14). O único mandamento que os cristãos nunca foram instruídos a guardar é o do sábado. Pelo contrário, Paulo ensina que o cristão não pode ser condenado por falhar em guardá-lo(Cl 2:16).
Uma vez que o cristão não é mais obrigado a observar o sábado judaico, ele tem forte razoes bíblicas para dedicar um dia, em sete, para seu repouso e adoração a Deus. O dia característico do cristianismo é o primeiro dia da semana, o domingo. O Senhor Jesus ressurgiu dos mortos nesse dia (João 20:1), prova de que o trabalho da redenção fora completo e divinamente aprovado. Nos dois domingos seguintes, Ele reuniu-se com seus discípulos (João 20:19,26); o Espírito Santo fora dado no primeiro dia da semana(At 2:1). Os primeiros discípulos reuniam-se nesse dia para partir o pão, mostrando a todos a morte do Senhor (At 20:7). É o dia designado por Deus, no qual cristãos deveriam colocar à parte contribuições financeiras para o trabalho do Senhor (1Co 16:1,2).
É válido ressaltar que os cristãos não “guardam” o domingo como meio de ganhar a salvação ou alcançar a santidade. Nós colocamos esse dia à parte por causa da devoção Àquele que deu a si mesmo por nós. Nesse dia, o cristão genuíno se dedica de uma maneira especial à adoração e ao serviço de Cristo.
Alguns segmentos religiosos insistem em afirmam que Deus descansou no sétimo dia da criação (Gênesis 2:1-3), e daí deduzem que aos homens foi ordenado que guardassem o sábado desde o tempo da criação. Mas nenhuma passagem afirma isso. A primeira vez que lemos sobre mandamento para os homens guardarem o sábado é em Êxodo 16, depois que Moisés tinha guiado os israelitas para fora do Egito. Gênesis 2 mostra que Deus descansou no sétimo dia, mas não ordena aos homens guardarem o sétimo dia. Aliás, a Bíblia nunca ordenou aos gentios que guardassem o sábado somente aos judeus, como vimos acima, desde o tempo de Moisés até Cristo.
Também não é certo dizer que o sábado foi transferido para o dia do Senhor (o domingo). O sábado é sábado e o dia do Senhor é o domingo. O sábado era uma sombra; a essência é Cristo (Cl 2:16,17). A ressurreição de Cristo marcou um novo começo, o dia do Senhor representa aquele inicio. Amém?
CONCLUSÃO
Assim como o sábado era um sinal do concerto de Israel como povo de Deus(Ex 31:16,17), o dia de adoração do cristão(o domingo) é um sinal de que este pertence a Cristo.
Nos tempos do Novo Testamento os cristãos dedicavam um dia especial, o primeiro dia da semana, para adorar a Deus e comemorar a ressurreição de Cristo (At 20:7; 1Co 16:2; Ap 1:10). A Igreja hodierna deve fazer o mesmo.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão – nº 48.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico Beacon – CPAD.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Hernandes Dias Lopes – Neemias -o líder que restaurou uma nação.
Postado por Luciano de Paula Lourenço
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