INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos a importância do arrependimento não apenas em relação à Judá, quando do retorno do cativeiro, mas o analisaremos como um princípio gerado pela Palavra de Deus, sendo válido para todos em todas as épocas.
I - DEFINIÇÃO DE ARREPENDIMENTO
Podemos recorrer aos termos originais, no Antigo e no Novo Testamento, para termos uma compreensão mais clara do que vem a ser “arrependimento”. As palavras utilizadas no Antigo Testamento para expressar a ideia de arrependimento são shuv(virar para trás, voltar) e nicham (arrepender-se, consolar). Shuv ocorre mais de cem vezes no sentido teológico de desviar-se de Deus (I Sm 15.11; Jr 3.19); também significa ‘voltar para Deus’ (Jr 3.7; Os 6.1). Às vezes, esse termo é utilizado no sentido de desviar-se do bem (Ez 18.24,26), mas também é usado no sentido de desviar-se do mal (Is 59.20; Ez 3.19).
O verbo nicham tem um aspecto emocional que não se percebe na palavra shuv, mas ambos os termos transmitem.
O Novo Testamento emprega epistrepho no sentido de voltar-se para Deus (At 15.19; II Co 3.16) e metanoeo/metanoia para a ideia de arrependimento (At 2.38; 17.30; 20.21; Rm 2.4). Utiliza-se de metanoeo para expressar o significado de shuv, que indica uma ênfase à mente e à vontade. Mas também é certo que metanoia, no Novo Testamento, é mais que uma mudança intelectual. Ressalta o fato de uma reviravolta da pessoa inteira, que passa a operar uma mudança fundamental de atitudes básicas.
II - ARREPENDIMENTO E CONFISSÃO DE PECADOS
A Lei do Senhor foi abundantemente lida e o resultado foi um genuíno avivamento, que começou com um genuíno arrependimento. Já fazia um bom tempo que os estatutos do Senhor não eram observados (Ne 8.17). O próprio cativeiro havia sido causado pela apostasia e imoralidade da nação judaica. Quando eles desprezaram a Lei de Deus e as mensagens proféticas, o resultado foi o fracasso, o cativeiro, a vergonha e a ruína (II Cr 36.15-21). O salmo 137 retrata bem o quadro espiritual e emocional do povo após a queda (Sl 137). Já o salmo 126 traz uma realidade totalmente oposta. Os moradores de Judá haviam sido libertos e a alegria se espalhara por toda a nação.
O avivamento, porém, ainda estava por vir. Além da antiga dívida para com Deus, os setenta anos de convívio com os ímpios babilônios trouxeram prejuízos à sua identidade de “nação santa e peculiar dentre todos os povos” (Ex 19.5). Após a reconstrução do templo e dos muros, o povo foi reunido para ouvir a Palavra do Senhor. Como Ela é viva, eficaz e penetrante (Hb 4.12); ao ouvi-La durante seis horas consecutivas, o povo se prostrou arrependido e, durante mais seis horas, confessaram os seus pecados (Ne 9.3).
Interessante que aquele avivamento foi um retorno à experiência do Sinai (Ex 19), e uma rememoração de tudo quanto o Senhor havia operado na trajetória de Israel. Eles se arrependeram de sua ingratidão para com o Deus que tudo houvera provido até então. Vejamos alguns pontos daquela maravilhosa oração:
- Reconhecimento de Deus como o Todo-Poderoso e Criador (Ne 9.5,6);
- Lembrança das promessas feitas a Abraão (Ne 9.7,8);
- Lembrança da misericórdia de Deus em relação a Israel no Egito (Ne 9.9);
- Lembrança dos sinais e prodígios operados por Deus no Egito (Ne 9.10-12);
- Lembrança da Glória no Sinai (Ne 9.13);
- Lembrança das provisões do Senhor (Ne 9.15);
- Lembrança da dureza de coração de seus antepassados (Ne 9.16-18);
- Lembrança da longanimidade de Deus (Ne 9.19-21);
- Lembrança das vitórias nas guerras em Canaã (Ne 9.22-25);
As terríveis oscilações espirituais e suas consequências (Ne 9.26-29).
Diante dessa retrospectiva de pecados e dureza de coração de Israel e, misericórdias e longanimidade de Deus, o povo prostrou-se arrependido. Interessante que não é apenas o juízo do Senhor que nos leva ao arrependimento, a sua benignidade também tem esse poder (Rm 2.4).
O verdadeiro arrependimento move o coração de Deus, e é sempre acompanhado de confissão de pecados. Foi assim com o salmista Davi (Sl 51.10-12; 16,17); com os ninivitas (Jn 3.5-10) e com o Filho Pródigo ( Lc 15.17-24). Naquela ocasião não foi diferente. Devido o sincero arrependimento, o Senhor lhes perdoou os pecados. Interessante que isso já havia sido predito quando da consagração do Templo na época do rei Salomão (II Cr 6.36-39). O que aconteceu com Judá é o que acontece com todos quantos se arrependem de seus pecados, mesmo na atual dispensação. Traçando um paralelo entre II Cr 7.14 e At 3.19, chegamos ao seguinte esquema:
ARREPENDIMENTO | -> | CONVERSÃO | -> | PERDÃO | -> | REFRIGÉRIO |
III - SANTIDADE, O FRUTO DO ARREPENDIMENTO
Notamos que a atitude inicial dos judeus quando se arrependeram de seus maus caminhos foi afastar-se dos povos pagãos. Entenda-se por pagão toda e qualquer pessoa que não crê no Deus Todo-Poderoso somente, e na sua Palavra como única regra de fé e prática. Eles se apartaram daqueles cuja religião, cultura, estilo de vida, ética, cosmovisão destoava totalmente daquilo que o Deus de Israel implementara para o seu povo. Não esqueçamos do conceito básico de santidade, a saber: separadopor e consagrado a. Desde os primórdios que essa era a proposição de Deus para o seu povo:
- Quando de seu chamado, Abraão foi convidado a se separar do paganismo de sua terra (Gn 12.1);
- Certa feita, Jacó precisou retirar de sua casa todo e qualquer elemento estranho à santidade de Deus (Gn 35.1,2);
- O próprio Deus afirmou de forma solene, no Sinai, que Israel seria separado de todas as nações (Ex 19.5);
- O Senhor preveniu os filhos de Israel a não se misturarem com as nações vizinhas (Dt 7.1-4);
- O erro do grande rei Salomão foi não ter se apartado das nações ímpias, que estavam ao seu redor (I Rs 11.1-6);
- As dez tribos caíram por terem se misturado às práticas pecaminosas das nações pagãs (II Rs 17.7-18);
- Judá havia caído por não preservar a santidade ao Senhor (II Cr 36.15,16).
Quando fizeram uma análise histórica, perceberam que o fracasso de Israel sempre esteve ligado ao abandono da santidade. A história de Israel, na realidade, é a repercussão daquilo que foi proferido nos montes Ebal e Gerizim (Dt 28). As bênçãos acompanham uma vida de santidade e as maldições, uma vida de pecaminosidade. Por isso, os judeus imediatamente se apartaram dos ímpios, para desfrutarem das bênçãos do Senhor.
A exposição incansável da Palavra de Deus gera santidade no povo. Isso também ocorreu nos dias do rei Josias. Depois do ensinamento da Lei, o rei iniciou uma reforma geral em Israel. Tudo o que não agradava ao Senhor foi banido e o povo retornou à santidade.
É impossível haver um verdadeiro arrependimento sem que haja também uma mudança total de vida por parte do arrependido. Em todos os casos citados, a Palavra de Deus foi proferida, o pecador sentiu o peso do pecado, arrependeu-se, e mudou de atitude. Baseados nas palavras do apóstolo Paulo em II Co 7.9,10, podemos entender melhor esse princípio. Vejamos:
EXPOSIÇÃO DA PALAVRA
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->
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TRISTEZA SEGUNDO DEUS
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->
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ARREPENDIMENTO
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->
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MUDANÇA DE VIDA
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CONCLUSÃO
Concluímos, portanto, que o arrependimento é imprescindível para se alcançar o perdão de Deus e, consequentemente, para a renovação do pacto, da aliança divina. De nada teria servido toda a restauração estrutural da cidade de Jerusalém se ela não viesse também acompanhada da restauração espiritual, que teve como ponto de partida o arrependimento.
Publicado no site da Rede Brasil de Comunicação
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