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domingo, 20 de março de 2011

Paulo testifica de Cristo em Roma - Parte 3

A Tempestade (Atos 27:13-26)
27:13 / Havendo uma brisa soprando do sul, eles alimentavam grandes
esperanças de alcançar o ancoradouro mais desejável de Fênice, a cerca de
sessenta e quatro quilômetros a oeste. De início tudo correu bem, embora
Lucas nos dê a impressão de que o cabo Matala só tenha sido alcançado
depois de alguns momentos de muita tensão. A forma enfática pela qual ele
inicia a declaração de que navegavam "mais de perto" (do que o desejável)
ao longo da costa de Creta, implica a dúvida momentânea por parte deles
quanto a serem capazes de safar-se.
27:14-15 / Mas a seguir, ao atravessar as águas do golfo de Messara,
entre o cabo Matala e Fênice, o vento de súbito virou. Um pé-de-vento,
chamado euro-aquilão (gr. typhonikos, cp. nossa palavra "tufão") —
desencadeou-se do lado da ilha — eis uma descrição gráfica de um
fenômeno comum nas águas de Creta (J. Smith, p. 102). Os navios antigos
eram incapazes de enfrentar o mar aberto, nem mesmo navegar contra o
vento, como um iate moderno o faz. Com esse vento soprando sobre eles,
vindo das montanhas de Creta, não tinham outra opção senão disparar
adiante, pelo que se viram empurrados para o sul.
27:16 / Assim foi que chegaram à proteção de uma ilhota chamada
Clauda (em alguns textos, Cauda), a moderna Gavdos, a cerca de trinta e
sete quilômetros do cabo Metala. Sob a proteção temporária dessa ilhota a
tripulação fez os preparativos possíveis para enfrentar a tempestade. Um
barco ("batei") que estava sendo rebocado à popa foi levantado e colocado a
bordo (cp. v. 17). Por essa altura devia estar inundado, e teria sido difícil içálo.
O emprego da primeira pessoa do plural, usaram de todos os meios, pode
significar que o próprio Lucas foi obrigado a trabalhar fisicamente, e teria
escrito estas palavras com algum ressentimento pelo grande esforço
dispendido. Que isto com certeza deve ter acontecido percebe-se pela
reversão à terceira pessoa do plural, no versículo seguinte, que descreve a
operação mais difícil de cingir o navio, tarefa que só a tripulação sabia
realizar.
27:17 / A vela principal talvez ainda se mantivesse no lugar até agora,
mas a tensão dessa enorme vela sob um vendaval teria sido superior à
capacidade de resistência do casco do navio. O madeirame teria empenado
e o barco soçobrado, não fosse o abrigo de Clauda. Aqui, eles passaram
cordas por baixo da embarcação, cingindo o navio. No grego temos "com o
uso de ajudas" — sem dúvida uma referência ao equipamento ("os
aparelhos"), como blocos e talhas. A operação efetuada chama-se
literalmente "cingir o navio", dando a impressão de que cordas teriam sido
passadas verticalmente ao redor do barco, num processo denominado
"amarração". A única dificuldade com que nos defrontamos é saber como
conseguiram fazê-lo sob tais condições. Normalmente a "amarração" era
executada estando o navio na praia. Vários comentaristas chegaram à
conclusão de que essa operação simplesmente não poderia ter sido feita, e
apresentam outras sugestões, todas as quais presumem, entretanto, que o
verbo adquiriu um sentido bem mais amplo. No todo, é melhor presumir que
o verbo tenha sido usado com seu significado original, total, e que os
marinheiros dominavam a técnica de "amarrar" o navio até mesmo numa
tempestade em pleno mar.
Eles enfrentavam dois perigos: primeiro, que as ondas gigantescas
pudessem emborcar o navio, ou esmagar sua estrutura, pelo que os
marinheiros fizeram a "amarração"; segundo, que fossem arrastados para
Sirte, nome grego de dois golfos rasos na costa da África. O maior desses, Sirte
Maior (o golfo de Sidra), a oeste de Cirenaica, é o lugar mencionado neste
versículo. Os marinheiros lhe temiam as águas rasas, cheias de rochas
traiçoeiras e bancos de areia, e embora o perigo ainda estivesse a cerca de
seiscentos e quarenta quilômetros de distância, estes homens do mar não
queriam arriscar nada. Diz-nos Lucas que eles "arriaram os aparelhos"
(assim diz o grego), que seria sua forma de mencionar a grande verga, que
suporta a vela principal, embora várias outras sugestões tenham sido
apresentadas, que vão desde o lançamento da âncora (NIV) até toda a
aparelhagem náutica pesada. É evidente que precisavam de algumas velas,
pois de outra forma o navio ficaria inteiramente à mercê dos ventos e das
ondas. O objetivo dos marinheiros não era apenas navegar bem devagar, mas
controlar o rumo. Os barcos romanos com freqüência carregavam uma vela
de proa, como este navio parece carregar (veja a disc. sobre o v. 40), e essa
teria sido suficiente para mantê-lo na direção do oeste e do norte, longe dos
perigos da costa africana. Assim foi que o navio se viu arrastado, e eles se
deixaram levar — não totalmente impotentes, mas fazendo o quanto lhes
era possível naquela situação desesperadora.
27:18-19 / No dia seguinte, arrastado agora pela tempestade para
longe do abrigo de Clauda, começaram a aliviar o navio, atirando ao mar
aparentemente a carga do convés (cp. v. 38; Jonas 1:5). No dia seguinte,
lançaram ao mar a armação do navio (v. 19) — talvez qualquer coisa
móvel que estivesse no convés. Alguns têm incluído aqui a bagagem dos
passageiros, mas nesse caso esperaríamos o adjetivo possessivo "nossa", e
não armação do navio. Todavia, pode ser correto acrescentar algum
equipamento para uso dos passageiros, como camas, mesas, utensílios de
mesa e coisas semelhantes. O comentário que os marinheiros fizeram tudo
isso com as próprias mãos nos parece estranho, visto que de nenhum
outro modo poderiam tê-lo feito, a menos que se intencione estabelecer um
contraste entre o transe penoso atual e o equipamento padrão disponível
num porto, para manuseio de cargas e aparelhagem. Há um texto (variante)
do v. 19 que diz: "nós lançamos" em vez de "[eles] lançaram" que salienta o
comentário sobre se o próprio Lucas estaria (de novo) envolvido em trabalho
braça!. Tal redação, contudo, não tem boa aceitação.
27:20 / O pior de tudo era a incerteza sobre onde estavam. Havia já
muitos dias, nem sol nem estrelas apareceram, pelo que estavam privados
de todos os meios de calcular sua posição, ou até mesmo de determinar com
alguma precisão a direção do navio (é claro que não dispunham de bússola).
A medida que os dias passavam desvanecia-se toda a esperança de
livramento ("fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos", imperfeito
passivo). Tanto os passageiros como os tripulantes caíram no desânimo.
27:21-22 / Quando a má situação chegou ao auge, havendo eles
estado muito tempo sem comer (v. 21) — o que não era incomum
naqueles dias numa tempestade marítima, pelo fato de o alimento estragar-se,
ou pela impossibilidade de cozinhá-lo, Paulo dirigiu-se às pessoas do navio.
Não era a primeira vez que enfrentava os perigos de uma tempestade (2
Coríntios 11:25), e baseado em sua experiência passada e fé presente, ele
tinha palavras de encorajamento para todos — não antes, porém, de permitirse
lembrá-los de que, Senhores, devíeis, na verdade, ter-me ouvido a mim e
não ter partido de Creta (v. 1). "Essa característica da natureza humana,
sempre disposta a provar que tinha razão, é um sinal da fidelidade de Lucas;
ele não se esquece do homem no apóstolo" (Rackham, p. 497). Há um
pouco de ironia na expressão paulina. O grego refere-se àquelas pessoas
"ganhando" esta "perda". Entretanto, ele lhes assegurou que ninguém
perderia a vida (contrariamente à predição anterior, v. 10); só o navio é que
se perderia.
27:23-24 / Paulo acrescenta umas explicações. Durante a noite o anjo
de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, havia dado a Paulo a certeza de
livramento (cp. Jonas 1:9). A luz da promessa de 23:11, Paulo poderia de
alguma forma sobreviver à tempestade, embora a depressão com freqüência
traga dúvidas, e nenhuma razão tenhamos para excluir Paulo do desânimo
que havia tomado conta de todos (v. 20). Seja como for, no que concerne a
Paulo, a visão angélica lhe confirmou a promessa de que ele daria
testemunho em Roma. Mas foi-lhe também dito que Deus "lhe fizera um
favor" (Deus te deu todos os que... esse é o sentido do verbo grego no
tempo perfeito) ao poupar as vidas das pessoas que estavam com ele. (Seria
essa a resposta a suas orações em prol daquele povo? Veja a disc. sobre
1:14 e 9:11).
27:25-26 / As últimas palavras de Paulo foram um testemunho. O
apóstolo exorta o pessoal do navio a ter bom ânimo, porque se podia
confiar em Deus (v. 25). Eles não se perderiam no mar, contudo é
necessário irmos dar numa ilha (v. 26). Este pormenor pode ter sido uma
parte da revelação divina, e Paulo poderia estar falando profeticamente,
como também poderia ser sua própria dedução, tirada da certeza de que
todos sobreviveriam embora o navio se perdesse.


Novo Comentário Bíblico Contemporâneo ATOS David J. Williams

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