Num mundo materialista quase não há espaço para encarar a realidade das perdas humanas. Até mesmo alguns crentes parecem viver o mundo encantado das “vitórias e conquistas” a qualquer preço. Contudo, perder filhos, imóveis e dinheiro, por exemplo, são consequências naturais da vida, inclusive dos que seguem a Cristo. A grande questão é: Como devemos nos comportar diante de tais acontecimentos? Já dizia certo pastor: “A verdadeira fé não se mostra nas bênçãos que recebemos, mas na resignação ante a soberania divina, mesmo quando perdemos o que Ele nos deu”. Nessa lição, à luz da vida de Jó, estudaremos os princípios bíblicos para o crente lidar com as perdas no caminho da vida.
I. JÓ E A EXPERIÊNCIA DAS PERDAS HUMANAS
1. Seu gado e rebanho. A Bíblia descreve Jó como um homem íntegro e que cultivava uma vida de profundo temor a Deus (1.1). Era bom patrão, bom esposo e um pai sempre presente e preocupado com a vida espiritual e social dos filhos (1.5). Mas, de repente, num só dia, ele viu todo seu gado e rebanho esvair-se. Os mensageiros, um a um, vieram trazer-lhe as inesperadas e funestas notícias (1.14-16).
2. Seus servos. Além de bois, camelos e ovelhas, os servos de Jó também tiveram suas vidas ceifadas, como depreendemos dos versículos 15 a 17: “Aos moços feriram ao fio da espada”; “fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os moços, e os consumiu”; “e aos moços feriram ao fio da espada”. Antes de findar o dia, a maioria dos funcionários de Jó havia sido dizimada.
3. Seus filhos. O mensageiro não havia ainda terminado de narrar os recentes sinistros a Jó, quando um outro apareceu com uma notícia ainda mais trágica: “Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e morreram” (v.19). Você pode imaginar, a essa altura dos acontecimentos, o que se passou pela mente e coração de Jó?
Num só dia fora privado dos bens, dos funcionários e dos filhos! Qual seria a sua reação? A de Jó foi rasgar o manto, rapar a cabeça e sofrer a angústia natural de um pai que acabara de perder todos os filhos; do patrão que ficara sem os funcionários e do homem rico reduzido à extrema pobreza. Mas, contrariando a reação da lógica humana, Jó, prostrado, adorou a Deus (1.20). Podemos sofrer e, até mesmo, viver as perdas da vida. Nisso, somos humanos. Mas devemos, a exemplo de Jó, reconhecer a grandeza e a soberania de Deus no processo da perda, ainda que soframos duramente com ela (1.21).
II. A PERDA DOS BENS
1. De ordem material. Por intermédio de uma vida imediatista, alguns cristãos, em momentos de perdas significativas, têm dificuldades de confiar em Deus. Quando se perde bens materiais, seja por causa de uma administração deficiente, por roubo ou devido à traição de pessoas que pareciam amigas, parece que o chão se abre e tudo vem abaixo. Para lidar com tais questões não há receitas nem manuais. O que temos é a promessa viva e real de Jesus (Mt 6.33). Acalme seu coração! E, em Cristo, recomece com fé e coragem!
2. De ordem afetiva. Ser preterido no namoro, ou no noivado, é um processo angustiante. Perder os pais, por mais que seja algo esperado, não deixa de ser doloroso para o ser humano. Sepultar o cônjuge é dilacerante para a alma. Enfrentar a separação no casamento, principalmente por adultério, é como sofrer a amputação de um membro do corpo. A dor finca suas estacas no âmago do nosso ser, traumatizando-nos violentamente (Sl 42.11; 142.7). Devido ao apego emocional e sentimental que temos por nossos familiares e por aqueles que nos cercam, as perdas de ordem afetiva trazem pavor e sofrimento ao nosso coração. Por isso, ficamos sem direção e mostramo-nos inconformados. É nessa hora que a nossa saúde psíquica é comprometida, podendo, inclusive, comprometer-nos a vida espiritual e social (1 Rs 19.9,10). Por isso, não podemos nos esquecer do socorro divino. Sem Ele, desmoronamo-nos.
3. De ordem espiritual. Uma vez que a saúde emocional está comprometida, a crise espiritual rapidamente se instaura. O crente desenvolve um sentimento de inércia para buscar a Deus. Ele não vê fundamento algum para viver, e acaba desejando a própria morte (1 Rs 19.4). Não podemos ignorar a seriedade do assunto. Se as perdas existenciais na vida do cristão não forem tratadas bíblica e equilibradamente, certamente haverá consequências graves. Assim, um bom começo para superarmos as perdas e angústias é lançar sobre o Senhor todas as nossas ansiedades, por que Ele tem cuidado de nós (1 Pe 5.7,9).
III. MESMO NA PERDA PODEMOS DESFRUTAR O AMOR DE DEUS
1. Sua graça. O coro do hino 205 da Harpa Cristã é bem significativo: “Graça, graça/ A mim basta a graça de Deus: Jesus/ Graça, graça/ A graça eu achei em Jesus”. Num momento de grande angústia, Paulo clamou ao Senhor, rogando-lhe que lhe removesse um espinho que o incomodava intensamente. Jesus, porém, limitou-se a responder-lhe: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9).
O apóstolo, então, passa a entender que a sua força está na fraqueza, pois o poder de Cristo aperfeiçoa-se justamente em nossas debilidades. A graça de Deus é insondável, infinita e incomensurável! Essa graça resgatou-nos. E de tão completa, ela nos basta por si mesma.
2. Seu amor. A graça de Deus é fruto do seu amor por nós. Sua graça é real na vida de todos os que recebem a Cristo como o seu Salvador. O Pai conhece a dimensão do nosso sofrimento e importa-se com cada um de nós. A maior prova disso está no fato de que Ele ofereceu o seu Único Filho para morrer em nosso lugar (Jo 3.16). Sim, Ele entregou seu precioso Filho por amor a nós. Seja qual for a sua perda, sinta-se amado por Deus. Esse amor é poderoso para preencher todo o vazio e solidão que nos ameaça destruir. Como o apóstolo do amor, podemos dizer: “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19).
3. Deus intervém na história. Servimos a um Deus que, em graça e amor inefáveis, intervém na história humana. Ele interveio na tragédia existencial de Jó. Depois de um longo período de perdas, angústias, dores e sofrimentos indescritíveis, o patriarca foi miraculosamente restaurado, enquanto orava por seus amigos (Jó 42.10a). Não desista da sua existência! Busque a Deus em oração. Ele não tarda em socorrer-nos. Como Deus interveio na vida de Jó, fazendo com que o seu último estado fosse melhor que o primeiro, Ele também entrará com providência em sua história. Ele não se esqueceu de você.
CONCLUSÃO
Podemos perder tudo nessa vida — casa, dinheiro, emprego, excelentes oportunidades, relacionamentos, pai, mãe, filho, filha, esposo, esposa e, até mesmo, a própria saúde. Mas, apesar de todos os infortúnios, continuamos a crer no Evangelho de Cristo, pois Ele é o nosso baluarte e fortaleza. Nele, as perdas redundam em ganhos eternos, conforme afirma o profeta Habacuque: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é minha força” (Hc 3.17-19a). Alegre-se, pois, em Deus e caminhe sem temor!
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