INTRODUÇÃOA Igreja é um organismo vivo, o corpo de Cristo (1Co 12:27a), a universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus (cf. Hb 12:23a). Ela se apresenta sobre a face da Terra, como uma reunião de igrejas locais, grupos sociais, que fazem parte de uma cultura, que têm tarefas a cumprir enquanto Jesus não volta para os arrebatar e os levar para estar para sempre com Ele (João 14:3; 1Ts 4:16,17). Além do mais, a Igreja é cada um de nós, seus membros em particular (I Co.12:27b), de sorte que cada um dos salvos tem, também, obrigações a cumprir perante o seu Deus enquanto Jesus não volta ou não somos chamados para a eternidade. Como servos de Deus, vivemos em sociedade e fazemos parte de uma cultura. Todavia, temos a mente de Cristo; desta feita, devemos exercer influencia sobre a cultura transformando-a segundo os valores do Evangelho de Cristo. E isso não tem a ver com a Igreja se misturando ao mundo em suas práticas. A ideia de ela exercer uma influência cultural na sociedade em geral tem a ver com a capacidade do Evangelho de atingir todas as camadas sociais por meio daqueles que estejam transmitindo a mensagem de forma dinâmica em cada um dos seus segmentos.
I. A CULTURA ANTES E APÓS A QUEDAQuando o homem foi criado por Deus, o seu caráter era bom, até porque tudo quanto Deus fez foi muito bom (Gn 1:31). Logo quando o Senhor anuncia a criação do homem, afirma que este ser será feito à Sua imagem conforme a Sua semelhança (Gn 1:26), numa clara demonstração, pois, de que o homem teria um caráter exemplar, uma estrutura moral e espiritual que faria lembrar a do próprio Deus. É, aliás, este o significado das palavras de Salomão, ao dizer que Deus fez o homem reto (Ec 7:29).
1. A natureza da cultura humana. O texto de Gênesis 1:26-30 mostra que Deus nos criou como seres sociais que produzem cultura. Cultura é o conjunto de manifestações sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social, etc. O caráter do ser humano é sobremaneira influenciado por todos esses elementos constitutivos da cultura. Se eles não se coadunam com os princípios da Palavra de Deus, então, certamente, teremos uma cultura desviada para o mal.
Sendo imagem e semelhança de Deus, o homem era dotado de um caráter que o tornava o reflexo da glória do Senhor. Olhando para o homem, era possível enxergar o próprio caráter divino, pois o homem era uma projeção de Deus na criação. Assim como o querubim ungido, que “era perfeito nos seus caminhos, desde o dia em que foi criado até que se achou iniqüidade nele” (cf. Ez 28:15), assim também era o homem.
A primeira característica apontada por Deus neste caráter de Sua mais sublime criatura é a capacidade de liderança, o domínio sobre a criação terrena. Ao anunciar a criação, Deus disse que o homem dominaria sobre a criação terrena (Gn 1:26). Nesta posição, o homem deveria manifestar um contraste entre ele e as demais criaturas. Ele foi dotado de capacidade extraordinária para criar e desenvolver culturas, bem como extingui-las. Todavia, o fato de poder exercer domínio sobre a Criação e de desenvolver culturas não significa que o homem possa fazer o que deseja, que destrua os animais (matança de forma indiscriminada) ou polua a Terra. Como ser criado por Deus, o homem deveria usar de sabedoria na administração da terra, usando-a para habitação, para seu prazer, tendo boa alimentação a seu dispor, preservando as obras criadas, pois a criação não pertence ao homem(Sl 24:1); porém, deve tratá-la com equilíbrio. Deus criou o homem para que reinasse sobre toda a terra (Gn 1:28).
O homem ao se fazer servo do pecado(João 8:34), perdeu tal domínio sobre a Terra, nada mais fazendo senão o desejo de sua natureza pecaminosa (Rm 7:14-24), que o atrai e o leva, inevitavelmente, ao pecado (Tg 1:14,15). Seu caráter, portanto, passa a ser moldado pelo pecado, distorcendo a imagem e semelhança de Deus que lhe foram impressas no momento de sua criação. Por causa do pecado, as culturas criadas e desenvolvidas pelo ser humano estão fatalmente comprometidas pelo mal(Gn 3:5-10,17-19).
2. A cultura como beleza da criação. Uma das capacidades que diferencia o ser humano dos animais irracionais é a de produção de cultura. O ser humano é mais que criatura, pois existe entre ele e Deus uma relação mais profunda, mais significativa. Ele foi criado para viver numa situação familiar com Deus, numa íntima comunhão. Mas, devido à sua queda deliberada no Éden, transgredindo à vontade divina (1Tm 2:14), a criação ficou submissa à vaidade (Rm 8:20-22). Apesar disso, a beleza da criação ainda se reflete na capacidade que homem tem de criar e desenvolver cultura. Ainda expressamos a imagem de Deus, e o modo como o fazemos pode ser demonstrado pela nossa criatividade e maneira de construir cultuas. Este era o propósito de Deus quando criou o ser humano, e até hoje continua sendo seu propósito para nós. O plano original de Deus não foi cancelado pela queda. Ainda refletimos “por espelho”(1Co 13:12), “obscuramente”(ARA), nossa natureza original como portadores da imagem de Deus.
3. A Queda manchou a cultura humana. O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus no sentido espiritual, porém após o pecado de Adão, o pecado manchou esta imagem divina no homem, e com isto alguns traços da imagem de Deus no homem foram perdendo o valor. Isto é melhor compreendido ao ver o pecado crescendo, e os valores morais perdendo o valor, e ver que o homem após o pecado tem uma facilidade muito grande de não cumprir suas palavras, de desrespeitar o próximo, e desobedecer ao seu Criador, e, por conseguinte, produzir culturas voltadas para o mal. A queda fatalmente manchou a cultura humana!
Será que os homens de nossos dias ainda são a imagem e semelhança de Deus? A resposta é não, pois somente a obra expiatória de Cristo poderá recuperar a imagem de Deus no homem, mediante o arrependimento dos pecados.Assim, quando o homem recebe o amor de Cristo, o apostolo Paulo afirma que o homem passa a ser uma nova criatura(2Co 5:17). A palavra nova criatura quer dizer que a primeira criação já não mais existe, a imagem do pecado que restou de Adão deixa de existir, e assim em Cristo o homem passa a ser novamente a imagem de Deus, pois tudo se faz novo.
II. EXEMPLOS BÍBLICOS DE RELACIONAMENTO CULTURAL
1. Daniel discerne a cultura babilônica. O império babilônico era singular em belezas artísticas, arquitetônicas, literárias e científicas. Indaga retoricamente o rei Nabucodonosor: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para casa real?”(Dn 4:30). Nesse contexto cultural, achava-se Daniel.
Jovens longe de casa enfrentam tentações. Se cruzar a linha e violar alguns princípios ensinados pelos pais, quem vai saber? Imagine, então, jovens levados de uma maneira violenta para uma terra estranha. Eles nem sabiam se os pais ainda estavam vivos. Poderiam até duvidar do poder do Deus que serviam, pois Ele não protegeu seu povo dos ataques da Babilônia. E agora o imperador mandou que eles fossem preparados para servir no governo dele.
Daniel percebeu que alguma coisa dos alimentos e bebidas fornecidos pelo rei traria contaminação. É provável que alguns destes alimentos fossem proibidos para os judeus na lei dada no monte Sinai 800 anos antes. Como este jovem reagiu? Poderia ter oferecido desculpas, dizendo que ele não tinha controle da situação e teria que ceder às ordens do rei. Daniel não tinha controle do rei, nem do homem encarregado da responsabilidade de supervisionar os jovens em treinamento, mas tinha controle de si, e tomou a sua própria decisão. “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se” (Dn 1:8). Deus abençoou esta decisão de Daniel, e o chefe permitiu que ele e os seus companheiros fizessem uma experiência, comendo comidas mais simples durante dez dias. Deus estava com eles, e o chefe viu que progrediram mais do que os jovens que comiam os alimentos do rei.
O resultado foi favorável, mas a decisão de Daniel não foi condicionada no resultado. Ele decidiu fazer a coisa certa antes de falar com o chefe. Mesmo se este tivesse recusado o pedido do jovem, Daniel já tinha tomado a decisão. Será que nós temos a mesma convicção?
Nós enfrentamos situações em que temos que insistir em fazer a coisa certa, ou ceder às pressões de outros, até de pessoas que exercem autoridade sobre nós. Um superior no trabalho pode exigir que mintamos para um cliente, para um fornecedor, ou para o próprio governo. Se insistirmos em fazer a coisa certa e falar somente a verdade, poderemos sofrer consequências, talvez até perdendo o emprego. E não temos garantia de intervenção divina, como aconteceu com Daniel. O que faremos? Resolveremos, firmemente, não nos contaminar?
O contexto cultural da Babilônia era totalmente antagônico aos princípios morais e espirituais de Daniel, mas não contaminou e nem influenciou o seu caráter. Ele soube muito bem discernir os prós e os contras da cultura babilônica. “Quando os valores de sua fé eram desafiados, Daniel não transigia nem negociava com os seus princípios espirituais, morais e éticos (Dn 1:8; 6:6-10). Através de uma postura tão firme e corajosa, fez sobressair sua fé no Deus único e verdadeiro. É assim que devemos agir e reagir, como povo de Deus, em relação ao contexto cultural no qual estamos inseridos”.
O mundo hoje é a Babilônia de Daniel. Para entender como que a Babilônia dos nossos dias pode influenciar precisa vê-la como um sistema. O que é um Sistema? É uma forma de governo, conjunto de princípios que coopera para o funcionamento de uma organização. Trazendo para o nosso contexto o sistema estabelece os comportamentos das pessoas que ele rege. Por exemplo, o rei Nabucodonosor queria preparar Daniel para gerar uma mentalidade babilônica, ou seja, uma mentalidade segundo o sistema babilônico. Hoje, o mundo é regido por um sistema. Um sistema totalmente contrário ao padrão de Deus.
Acreditamos poder afirmar que a Babilônia dos dias de Daniel comparada à“Babilônia” destes “últimos dias“, aquela poderia ser considerada uma cidade monástica. Certamente que lá não havia “permissão legal” para que menores de 18 anos pudessem matar gente de bem, pais de famílias, estudantes, profissionais liberais, pessoas de todas as classes sociais, sem maiores consequências no presente e sem nenhuma consequência no futuro.
Lá em Babilônia os menores assassinos de hoje, seriam condenados à morte. Lá em Babilônia embora houvesse tolerância para com o relacionamento entre homossexuais, por certo o homossexualismo não era celebrado, com “orgulho”, em gigantescos desfiles, ou “paradas do orgulho gay”, prestigiadas pela presença de autoridades governamentais, como acontece na “Babilônia” destes “últimos dias”. Também, com certeza, não havia casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Havia um limite para a prática pecaminosa. Na “Babilônia” de hoje não existe este limite.
Os fatos sociais dos últimos dias, em termos do declínio espiritual, em termos da degeneração moral dos costumes, em termos de decadência social, com certeza, não encontram paralelos na história, de qualquer época. Por certo estamos vivendo naqueles dias preditos por Paulo: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”(2Timóteo 3:1). Por certo que estamos, também, naqueles dias da multiplicação da iniqüidade, referidos por Jesus: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará”(Mateus 24:12).
2. Paulo, Barnabé e a transformação cultural em Listra. “Deus se importa não só com a redenção das almas, mas também com a restauração de sua criação. Ele nos chama para sermos agentes não apenas de sua graça salvadora, mas também de sua graça comum. Nosso trabalho não é somente construir a Igreja, mas também construir uma sociedade para a glória de Deus”(COLSON, Charle; PEARCEY. E Agora, Como Viveremos? 2. ed. Rio de janeiro : CPAD, 2000, pp. 53,54).
Paulo e Parnabé estavam realizando sua primeira viagem missionária, e, um dia, chegaram em Listra. Lá encontraram um homem aleijado de nascença que ouviu Paulo falar e demonstrou grande interesse. Assim que ouviu a ordem de Paulo para que ficasse em pé, o paralítico saltou e andou. O milagre foi realizado em público. Ao perceberem o que havia acontecido, a multidão, inclusive o sacerdote de júpiter, ficaram tão impressionadas que começaram a adorar Barnabé como se fosse Júpiter e Paulo como fosse Mercúrio. Imaginavam que os “deuses” haviam descido à terra para fazer uma visita e assumido a forma dos dois missionários. Por algum motivo não mencionado no texto, consideraram Barnabé o deus supremo. Como Paulo era quem havia falado, tomaram-no por Mercúrio, o mensageiro de Júpiter(cf 14:8-13).
Júpiter e Mercúrio (nomes latinos dos deuses gregos de Zeus e Hermes) eram populares no mundo romano. O povo de Listra dizia que estes deuses haviam visitado a cidade uma vez. De acordo com a lenda, ninguém lhes ofereceu hospedagem, exceto um casal idoso. Por esta razão, Júpiter e Mercúrio mataram os demais habitantes e recompensaram apenas o casal. Quando os cidadãos de Listra viram os milagres operados por intermédio de Paulo e Barnabé, pensaram que os deuses lhes visitavam novamente. Ao lembrar-se da lenda, imediatamente os habitantes de Listra honraram Paulo e Barnabé e os cobriram de presentes.
Quando os missionários se deram conta de que a multidão desejava adorá-los como se fossem deuses, rasgaram suas vestes, numa expressão pública de protesto e tristeza. Então, saltaram para o meio da multidão e instaram o povo a não cometer tamanha insensatez. Explicaram que não eram deuses, mas homens, como os licaônicos. Seu objetivo era apenas proclamar as boas-novas para que as pessoas deixassem as coisas vãs e adorassem ao Deus vivo(cf 14:14,15). Após a explanação de Paulo sobre a criação(cf 14:15b - 17), o povo relutante desistiu, por fim, da idéia de oferecer sacrifícios aos servos do Senhor. Dessa forma, os dois missionários contrapuseram o Evangelho de Cristo à cultura pagã de Listra. E ali mesmo, estabeleceram uma igreja(Atos 14:21,22). Isso prova que o Evangelho tem o poder de transformar a cultura de uma sociedade por meio da prática da Palavra de Deus(veja At 17:15-34).
III. EVANGELHO, IGREJA E CULTURA
1. Evangelho e cultura. A mensagem do Evangelho foi, é e sempre será relacionada a todas e a cada uma das culturas presentes no mundo. Por essa razão, deve ser comunicada de maneira tal que os povos possam receber, entender e experimentar com suas próprias “lentes” (características e perspectivas) culturais.
A natureza da mensagem redentora de Deus aos povos pressupõe que ela deva ser recebida, entendida e respondida por todas as culturas. Mais do que isso, ela precisa ser relevante não somente para qualquer contexto no qual as pessoas vivam, mas também para o indivíduo como um todo e tudo o que influencia o relacionamento desse indivíduo com a realidade integral da vida.
Em todas as culturas existem determinados elementos que são comuns, e que devem ser explorados pela igreja em sua tarefa missionária. Uma igreja que deseja ser relevante deve estudar o grupo que deseja alcançar e, a partir desta analise, definir o tom da palestra, o estilo litúrgico, os ritmos musicais e definir as estratégias que facilitarão o diálogo com as pessoas que ela deseja alcançar.
Em Atos 17, o apostolo Paulo fez seu célebre discurso no areópago de Atenas. Cercado pela elite intelectual daquela cidade, ele apresentou um sermão engajado, no qual citava de memória os filósofos e poetas gregos, demonstrando afinidade com os temas de predileção daqueles homens. E foi assim, começando pelos poetas gregos que o doutor dos gentios conduziu seus ouvintes a mensagem de arrependimento. Quando Paulo mencionou a ressurreição, muitos se escandalizaram e se foram, mas Dionísio e alguns dos presentes se converteram ao cristianismo(Atos 17:34). Paulo foi sábio porque soube usar a cultura em seu benefício, construindo uma ponte por meio da qual introduziu o evangelho.
2. Igreja e cultura. Há pessoas na Igreja que entendem como necessária uma separação cultural entre a comunidade cristã e a sociedade. A Igreja deve usar a cultura em favor do evangelho, mas deve rejeitar valores culturais que se opõem a mensagem cristocêntrica.
De fato, compreendemos que as práticas da Igreja e as do mundo são opostas entre si a partir de sua natureza. A Igreja é a agência do Reino de Deus na Terra, transmitindo a mensagem do Evangelho e tornando Jesus conhecido por palavras e vida, ao passo que o mundo é o campo de atuação de Satanás, onde vidas são destruídas, e as pessoas levadas a viver uma existência sem Deus, ou duvidando dEle. Por isso, a Igreja precisa se organizar para que o Evangelho faça a diferença de forma profunda neste mundo. Não precisamos esperar pelo milênio para ver isso acontecer.
Nancy Pearcey, escritora e professora de Filosofia, faz uma prévia sobre a influência do Evangelho na cultura, dando como exemplo o que acontece com os jovens quando vão à faculdade sem uma sólida formação cristã que os ajude a refutar as ideias anticristãs com as quais terão de conviver. Ela diz: “Na função de pais, pastores, professores e líderes cristãos de grupos de mocidade, vemos constantemente os jovens humilhados pela contracorrente de tendências culturais poderosas. Se tudo que lhes dermos for uma ‘religião do coração’, não serão bastante fortes para se oporem à isca de ideias atraentes perigosas. Os jovens crentes também precisam de uma ‘religião do cérebro’ - educação em cosmovisão e apologética - para equipá-los na análise e na crítica de cosmovisões concorrentes que eles encontrarão no mundo afora. Se estiverem prevenidos e armados, os jovens pelo menos terão a chance de lutar quando forem a minoria entre seus companheiros de classe ou colegas de trabalho. Educar os jovens a desenvolver uma mente cristã já não é opção; é parte indispensável do equipamento de sobrevivência”, diz a professora. E continua: “O primeiro passo para formar uma cosmovisão cristã é superar esta divisão severa entre ‘coração’ e ‘cérebro’. Temos de rejeitar a divisão da vida em uma esfera sagrada, limitada a coisas como adoração e moralidade pessoal, em oposição a uma esfera secular que inclui ciência, economia, política e o restante do cenário público. Esta dicotomia em nossa mente é a maior barreira para liberar o poder do Evangelho por toda cultura hoje” (Verdade Absoluta, CPAD, pág. 22).
3. O despertamento cultural da igreja. Os meios de comunicação tem imposto sobre a sociedade uma carga cultural completamente oposta aos valores do Evangelho. Há alguns meses passados, vimos através da mídia um vídeo que mostrou crianças portadoras de deficiências sendo enterradas vivas pelos pais em uma aldeia indígena. Para os índios daquela tribo, tal prática é aceitável. Para os antropólogos, trata-se de uma questão cultural. Para o Evangelho, aquilo é assassinato.
Na América Hispana, demonstrações de afeto dos pais para com os filhos são tidas como fraqueza, e muitos maridos, por “imposição cultural”, maltratam suas mulheres e são violentos. Para a sociedade isso é cultura, mas para o Evangelho, é pecado (ver Ef 5:25-27).
Nos EUA e na Europa, as pessoas tem desenvolvido uma tendência materialista e cética, onde o individualismo e o egoísmo são as marcas principais. O mesmo tem acontecido na América Latina, embora com menor intensidade. Este individualismo, egoísmo e ceticismo são todos nuances da cultura pós-moderna, mas são totalmente opostos ao Evangelho, que é espiritual, coletivo e altruísta. O que os modernos sociólogos chamam de cultura, a Bíblia chama de pecado.
Portanto, a abordagem que muitos missiologistas faz, de que o missionário deve coincidir totalmente com a cultura, é sofisma. O evangelho não é uma esponja que simplesmente absorve a cultura, mas um poder que redime as culturas. A Palavra de Deus nos dá claro e amplo entendimento para discernir entre valores culturais e vícios morais. Quando se ignora isso, abrem-se as portas para o sincretistimo e paganismo da religião cristã.
Jesus em sua encarnação foi judeu em todo aspecto da existência. No entanto, o fato dele mesmo ser judeu e de estar contextualizando com os judeus não o impediu de denunciar a hipocrisia dos fariseus que lavavam as mãos cerimonialmente antes de comer, quando seus corações continuavam impuros. Ele também se levantou contra o costume de consagrar seus bens ao Senhor quando parentes próximos passavam necessidade. Jesus foi missionário transcultural, mas não se submeteu incondicionalmente a cultura hebréia. Ele a redimiu.
Tudo isso nos revela que o evangelho não é apenas um agente passivo e submisso à cultura, mas um agente transformador. “O evangelho se submete à cultura na mesma proporção em que a cultura se submete ao evangelho, e desafia a cultura com a mesma intensidade que a cultura afronta a Palavra de Deus”.
CONCLUSAO
A Igreja jamais deve ignorar a missão que lhe foi dada por Deus. Se isso acontecer, a Igreja negará a sua razão de ser e está sujeita ao juízo de Deus, como aconteceu com Israel. A missão primordial da igreja no que diz respeito ao mundo é a proclamação do “evangelho do reino”, assim como fez a Igreja primitiva. Corretamente entendido, esse evangelho inclui muitas coisas importantes. Em primeiro lugar, esse evangelho é um convite a indivíduos, famílias e comunidades para se reconciliarem com Deus mediante o arrependimento e a fé em Cristo. Transformemos, pois, a cultura da sociedade com a mensagem do Evangelho.
——-
Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:William Macdonald - Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal
Revista Ensinador Cristão - nº 47.
O Novo Dicionário da Bíblia - J.D.DOUGLAS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário